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Qual café é melhor: blend ou origem única? Serão os cafés de origem única melhores que os blends? Por Ensei Neto/Estadão

Seg, 13 de Novembro de 2017 às 21:00

“Um filme que recomendo assistir, muito interessante e divertido, é o “Bottle Shock”, conhecido também como “O Julgamento de Paris”, do diretor Randall Miller e um elenco super estrelado, que conta a primeira degustação comparativa entre vinhos do Napa Valey e os tradicionais produtores franceses, vencida pela vinícola californiana Chateau Montelena. Era o ano de 1976 e esse feito colocou os vinhos do chamado Novo Mundo entre os melhores do mercado.

O que chama muito a atenção nesse episódio, que foi bem retratado pela película, era o fato de que, como ainda ocorre em grande parte, os vinhos franceses eram todos cortes de diferentes uvas, ou seja, o que, em se tratando do café, seria chamado de blend, enquanto que os vinhos californianos eram de uma única uva. E daí surgiu uma grande pergunta: seriam vinhos de uma única uva melhores que os de corte ou blend?

Nos últimos anos, com o surgimento da 3ª Onda do Café, que tem como característica os consumidores conhecerem mais sobre as origens de café que consomem, permitiu que marcas de café produzidas em fazendas e pequenas torrefações lançassem grãos comentando sobre fazendas, produtores e variedades de café. Em cafeterias e lojas especializadas é possível encontrar cafés de diferentes fazendas, onde o produtor conta sua história e a localização das lavouras. Outros cafés fazem questão de destacar que são de uma única variedade como o Mundo Novo, o Catuaí Amarelo, Bourbon Vermelho ou um moderno Topázio. E, ainda, você pode encontrar cafés que destacam também o processo de secagem, se é Natural, quando é colhido maduro e sua secagem é feita com a casca externa, ou Cereja Descascada -CD, cuja secagem da semente é feita sem a casca externa.

Mas, será que existe tanta diferença na bebida entre blends e origens únicas, que podem ser grãos de um pequeno lote, de um processo de secagem ou de uma variedade específica?

A resposta clássica é esta: depende!

A grande indústria tem como preocupação oferecer produtos que tenham sabores e aromas estáveis ao longo do ano, de forma que, por envolver grandes volumes de café, criar blends ou misturas de diferentes grãos é a resposta para essa questão. Não estou comentando sobre qualidade sensorial, mas sobre como resolver um problema relacionado com quantidades enormes. Isso vale para todo o tipo de alimento e bebida.
Não é o fato de que um lote de café contendo apenas sementes da variedade Bourbon Amarelo ou Obatã que o resultado na xícara será maravilhoso. Se o produtor não teve o devido cuidado, a experiência pode ser desastrosa.

Em geral, pequenos lotes, que são porções menores de café de frutas colhidas em condições excelentes e que tiveram uma secagem exemplar, resultam em incríveis bebidas, mas que, pode ter sido obtido por uma mistura de variedades. Portanto, o que importa é menos o fato de que os grãos são da variedade Mundo Novo ou Catuaí Vermelho, ou se é um blend de tudo isso e mais um pouco mais. É o manejo e atenção dispensada pelo cafeicultor que define isso.

No entanto, os blends podem resultar em bebidas inesquecíveis. A arte de construir uma boa mistura de grãos está em encontrar o equilíbrio de sabores, permitindo que todos eles possam se expressar no momento certo. Muitas cafeterias e torrefações de cafés especiais exibem seu próprios blends, destacando por vezes a composição.

Se o café é fácil de beber, que se torna melhor ao esfriar e se dispensar totalmente o açúcar, é porque é realmente bom. E, por isso, tanto faz, se é blend ou uma origem única.

Saúde!”

Ensei Neto